09/06/2008

A Matéria da Escultura

.
Ben Vautier, Ben Museum, 1972


Naquele tempo o escultor estava a trabalhar arduamente no seu texto de dissertação de tese de doutoramento sobre a matéria de que é feita a escultura, e para a qual ainda não tinha encontrado o titulo adequado.
Aquele «serviço» era exigido pela estrutura académica onde trabalhava, por razões de estabilidade, de sobrevivência e de conveniência estatutária e social.
Naquele tempo desloquei-me a uma grande galeria de arte, localizada na cidade imperial, e na qual quatro das últimas esculturas do escultor estavam expostas.
Disse-me o galerista, lamentando a actual tarefa do escultor:
«É uma pena o escultor estar a fazer o que está a fazer! Muitas obras poderiam nascer neste tempo que, deste modo, não passa de tempo morto!»
Entretanto o tempo passou e as quatro esculturas foram vendidas pelo galerista, cada uma delas a uma pessoa diferente. Estes proprietários enriqueceram o seu património.
Conta-se que depois nunca mais ninguém viu as esculturas.
Entretanto o artista escultor que tinha acabado o seu texto com o título «A Matéria da Escultura» defendeu-o perante o júri conveniente e foi muito aplaudido e abençoado.
E o futuro riu-se para ele!...
(I.Salt, 11/Nov/2007 – 8/Jun/2008)

1 comment:

Anonymous said...

Que estranho, como isto me parece familiar e quase biográfico.
A tendência, quase arrogante, que temos para nos revermos nas palavras que os outros escrevem...

Pode-se escrever

Pedro Oom (14 de junho de1926 - 26 de abril de 1974):  escritor e poeta surrealista português, ligado ao neorrealismo, ingressou, no final d...