15/05/2009

Artistas são como livros em estante.

Há uns anos atrás, num fim de tarde de Verão e escondido por detrás de um muro coberto de hera, ouvi um artista alto, ligeiramente corcunda, activo quanto baste, de t-shirt azul escura e com idade bastante para ser célebre dizer numa reunião de amigos no quintal da casa:
Em Portugal existem apenas vinte artistas.
Fiquei surpreendido com tal afirmação, vinda de quem veio.
Primeiro pensava-o mais acompanhado!
Senti pena pela sua solidão.
Mas depois interroguei-me sobre a que artistas ele se referia:
A pintores como ele? Ou artistas plásticos como ele também? A músicos? A escritores? A bailarinos? A actores de teatro, cinema ou de rua? Ou a quem?
A razão do meu pensamento deveu-se ao facto de não esperar essa concepção num autor cuja obra considero como relevante no panorama nacional.
Ou será que, não sendo encontradas sintonias entre o pensamento do autor e a sua obra, esta não é da sua autoria?
Pensava ser claro para todos, e para esse pintor também que, depois de Duchamp, todos somos artistas, todas as coisas podem ser arte e todas as fronteiras da arte foram derrubadas. E quer se queira quer não, passados quase cem anos, já foram vividas todas as consequências dessa verdade.
Pensava ainda eu que, sendo esse pintor uma consequência disto mesmo, ele disso tivesse consciência.
Ingenuidade a minha e por conseguinte erro meu!
Duchamp provou que os artistas são como livros em estante, nos quais as diferenças de tamanho, de formato e de peso não encontram correspondência alguma com o valor que a sua obra transporta.

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