MIGUEL PROENÇA
«Abalar o mundo figurativo é colocar em questão as garantias da existência. O ingénuo acredita que a figura é a experiência mais segura que o homem tem de si mesmo, e não ousa negar esta certeza, embora suspeite a existência de experiências interiores. Ele imagina que, ao contrário do abismo da experiência interior, a experiência directa do seu corpo constitui a unidade biológica de maior certeza. [...]
O corpo humano, padrão de todas as formas, contem todos os elementos. A cabeça é uma bola, as pernas colunas cilíndricas, o torso um cubo, etc. Nos apreendemos os objectos e a natureza porque são construídos com formas humanas e a arte tectónica não é mais do que o colocar em conformidade do mundo exterior com os seus elementos fundamentais que vêm do homem.» (Carl Einstein, 1929-30 in Documents)
E é justamente o corpo humano que serve de base para o presente trabalho fotográfico. Mas em vez de certeza e organização este trabalho aponta para a incerteza e a desorganização da forma humana. A forma humana desfigurada, acefálica, animal, horizontal, ou seja, informe. Tudo dentro do convencionalismo da fotografia, claro está.
Miguel Proença, Outubro de 2011.
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