31/10/2011

Inauguração da exposição «Palavras-chave»

Da esquerda para a direita: Ilidio Salteiro, João Paulo Queiroz, vice-director da FBAUL, João Luis Duque, Preidente do ISEG e Marco Moreiro, autor do Tijolo Branco (uma construcção em papel A4 sobreposto).

30/10/2011

Palavra-chave (10)

SAMUEL DUARTE

A partir de imagens de explosões de um conjunto de objectos, então fragmentados, surge o caos pictórico. É assumida a fragmentação do objecto, tendo em conta os seus elementos estruturais e não a sua unidade enquanto forma. A estrutura de uma pintura é o desenho e tudo o que lhe é inerente: os seus elementos básicos como a linha, a mancha, os espaços e a cor.
Assim, o objecto esboçado repercute a gestualidade e a impulsividade desses mesmos elementos, como uma explosão. As formas avançam em direcção ao espectador, consciencializando-o da profundidade, espaço e relação entre as mesmas. O dinamismo e a agressividade são reforçados pela gestualidade que o material riscador (material que mais se relaciona com o desenho do que com pintura) proporciona.
Os objectos assumem-se então como poeiras, restos, deixam de ser objectos. Tornam-se formas indefinidas, quase sem contorno, que se fundem e desvanecem no próprio fundo/espaço.
Samuel Duarte, Outubro 2011

29/10/2011

Palavra-chave (9)

TIAGO PEREIRA DE ALEXANDRE

Interna, Urbana eterna.
Dois desenhos: É prática corrente sair do atelier como forma de distanciamento do que estou a fazer e dar longas caminhadas, vaguear pela cidade. Nestas caminhadas tendo a agir como um caçador recolector de informação visual e de material para os próprios desenhos. Tendo a pegar em material orgânico. Pequenos objectos como sementes de árvores, folhas, ramos com formas atractivas, restos orgânicos, coisas que me agradem e que aparentemente foram perdidos, deixados e ignorados. Coisas sem valor aparente mas que a mim me despertem algo pela sua forma, textura ou cor
Os primeiros desenhos tinham o carácter de registo, quase obsessivo, uma espécie de desenho científico. O trabalho começou a tomar direcções apenas quando apareceu. Ao observar o conjunto de desenhos apercebi-me que aqueles registos que em tanto investi para serem tão explícitos poderiam ser aquilo ou outra coisa qualquer. Sugeriam desenhos anatómicos, as notas e as legendas faziam com que parecessem material de estudo e investigação arqueológica, tudo menos o lado naturalista talvez ambicionado. Aumentei a escala. Essa escala suscitou a experimentação de novos materiais e registos expressivos. Os objectos ganharam forças visuais distintas e passaram a ser constituintes de um todo. A Paisagem.
Foi muito importante a articulação entre a figura e o fundo, neste caso o próprio suporte, o papel. O enquadramento e o jogo de equilíbrios e desequilíbrios no espaço do desenho são as minhas fortes motivações no acto de desenhar.

Poisos para Pássaros: Desde a infância que a minha relação com os pássaros se estreita. Começou na época em que corria atrás dos pombos junto à igreja de Moscavide e pedia à minha mãe para me comprar sacos de milho para os alimentar, com sorte agarraria um ou outro pela asa…e as tardes, as tardes passadas debaixo de uma figueira de pistola de pressão de ar em punho, as armadilhas de arame estendidas e o “bisgo”, o bisgo colocado em locais estratégicos com ou sem chamariz.
Com o tempo, a vontade de os apanhar foi diminuindo mas, em contrapartida, as caminhadas pelas Lezírias e a vontade de subir às árvores sempre que vejo um ninho têm vindo a aumentar. São muitos os pássaros do meu fascínio, ainda mais aqueles que apenas pelo seu cantar reconheço.
Há já há algum tempo que linhas verticais e horizontais se apoderaram do meu caderno, nunca tentaram de modo algum ocultar a figura humana, penso que apenas as transformaram em formas quase arquitectónicas. O espaço, esse é o meu fascínio. Os equilíbrios e os desequilíbrios das linhas ligam o chão ao céu.
A junção da palavra Poiso com a forma e as linhas do objecto formou-se a partir da poesia, ou então talvez a partir do momento em que as decidi juntar…
Tiago Pereira de Alexandre, 2011.

28/10/2011

Palavra-chave (8)

ANABELA MOTA



(in) visibilidades do Tempo

O encontro intermitente e subtil entre sucessivas aragens e a superfície da água move a nossa visão das árvores para os seus reflexos e destes para as árvores.
Podemos escolher ficar com as árvores, com os reflexos ou com a intermitência entre os dois estados.
(in)visibilidades são momentos; mas são simultaneamente manifestações desfasadas no tempo, de realidades distintas mas inter-relacionadas. Tal como caminho é o nome que o infinito toma quando nos segreda o mistério, também a aragem e a superfície se combinam sem provocar distúrbio na possibilidade de descoberta do mistério.
Anabela Mota, 2011


27/10/2011

Palavra-chave (7)

MIGUEL PROENÇA


«Abalar o mundo figurativo é colocar em questão as garantias da existência. O ingénuo acredita que a figura é a experiência mais segura que o homem tem de si mesmo, e não ousa negar esta certeza, embora suspeite a existência de experiências interiores. Ele imagina que, ao contrário do abismo da experiência interior, a experiência directa do seu corpo constitui a unidade biológica de maior certeza. [...]
O corpo humano, padrão de todas as formas, contem todos os elementos. A cabeça é uma bola, as pernas colunas cilíndricas, o torso um cubo, etc. Nos apreendemos os objectos e a natureza porque são construídos com formas humanas e a arte tectónica não é mais do que o colocar em conformidade do mundo exterior com os seus elementos fundamentais que vêm do homem.» (Carl Einstein, 1929-30 in Documents)

E é justamente o corpo humano que serve de base para o presente trabalho fotográfico. Mas em vez de certeza e organização este trabalho aponta para a incerteza e a desorganização da forma humana. A forma humana desfigurada, acefálica, animal, horizontal, ou seja, informe. Tudo dentro do convencionalismo da fotografia, claro está.
Miguel Proença, Outubro de 2011.

26/10/2011

Palavra-chave (6)

MATILDE CORRÊA MENDES


Três quadrados de dez metros de vento, video, 2010.



Três quadrados de dez metros de mar, video, 2010.


Se eu considerar 3 quadrados de dez metros de mar (instalação de vídeo, 2008) e 3 quadrados de dez metros de vento (instalação de vídeo, 2010) …

…“A dificuldade consiste em fixar os limites desse quadrado, porque se ele considerar, por exemplo, como o lado mais distante de si a linha em relevo de uma onda que avança, essa linha ao aproximar-se dele e ao elevar-se, esconde tudo aquilo que está por trás dela; e eis que o espaço tomado em consideração se inverte e se reduz ao mesmo tempo. Contudo, o senhor Palomar não desanima e pensa em cada momento que viu aquilo que podia ver a partir do seu ponto de observação; mas acaba por aparecer sempre qualquer coisa que ele não tinha tomado em consideração. Se não fosse por essa sua impaciência de alcançar um resultado completo e definitivo da sua operação visual, o observar das ondas seria para ele um exercício muito repousante (...). E talvez pudesse ser essa a chave para dominar a complexidade do mundo, reduzindo-o ao mecanismo elementar.” Italo Calvino, Leitura de uma onda.

Matilde Correa Mendes, 2011.
«Palavras-chave», ISEG FBA, Outubro - Novembro de 2011.



25/10/2011

Palavra-chave (5)

LUÍS BARATA


Sem título, 2011.
Técnica mista sobre tela, 82 cm x 119 cm.
 


Cinco planos pintados. Em todos se faz uma alusão consciente à grelha, à grade, ao palimpsesto, numa pintura estenográfica que tende para a monocromia.
Os objectos expostos fazem parte de uma série de trabalhos cuja motivação é materializar imagens fotográficas anónimas, encontradas na internet, remetendo-as para o espaço-tempo da pintura. São representações figurativas de aglomerados urbanos disfuncionais, bastidores da modernidade, espaços de território esquecidos, velados pelos filtros dos mass media.
Esta série de trabalhos trata da função selectiva do esquecimento na construção da memória e da identidade.
Luis Barata, 2011.





24/10/2011

Palavra-chave (4)

ÂNGELA RODRIGUES


Sem título, 2011.
Acrílico sobre papel, 22 cm x 40 cm.

O conjunto de trabalhos que aqui se mostram advém da observação e estudo da paisagem. Com reminiscências do mundo rural e natural, caracterizam-se pelo singular desejo de querer reconstruir a paisagem como cenário ilimitado de vida onde os elementos se fundem em busca de novas composições, explorando graus de abstracção mais acentuados numas do que noutras. Para lá da compreensão verbal, o objectivo é estabelecer uma relação de proximidade entre a pintura e o observador, sendo este convidado a experimentar e a vivenciar cada imagem.
Cada obra é uma matriz na qual se cria, não uma representação do real mas sim, uma representação do irreal, comandada pela memória e pela experimentação, consentindo que matérias cromático-texturais desenhem os caminhos que marcam e definem cada composição.
Ângela Rodrigues, Outubro de 2011

23/10/2011

Palavra-chave (3)

ANA DO SOUTO VASQUES



Red Dream II, 2010
Acrilico sobre tela, 100 cm x 120 cm.


Este trabalho surgiu da reflexão sobre dois grupos de imagens. Um, retratando culturas antigas ou tribais (Índios Australianos ou Africanos, objectos neolíticos, paleolíticos, símbolos religiosos antigos – Arquétipos); outro retratando tecnologia de ponta (espaço e ciberespaço, cenas futuristas e física moderna – Futuro).
Estes dois universos, com, aparentemente, nada em comum, induziram-me a uma reflexão profunda sobre que relação existiria entre o passado (tão longínquo) e um futuro (ainda por concretizar). Ao longo do desenvolvimento do projecto vou entendendo o que une estes dois mundos no meu trabalho, sendo que inevitavelmente resulta numa mistura de estéticas tribais com estéticas contemporâneas.
No paleolítico a imagem era o mito e o mito gerava imagem. A narrativa do significado do desenho era simbólica: já se usavam os símbolos. O homem do paleolítico tinha como necessidade emergente o alimento, isto gerava o trabalho, que ia desde os rituais com desenhos nas paredes das cavernas ou no próprio corpo, até á caça propriamente dita, e que, consequentemente gerava o consumo de alimentos.
O consumo de alimentos seria assim o fim do ciclo e o objecto daquela “arte”.
Hoje, apesar da fome que ainda existe, o objecto dos nossos desejos alterou-se, e o significado das nossas pinturas é mais complexo que nunca.
Ana do Souto Vasques, 7 de Outubro de 2011, Paris.



22/10/2011

Palavra-chave (2)

MARCO MOREIRA


Tijolo branco, 2011.
Folhas soltas de papel A4 cortadas mecanicamente e sobrepostas em forma de tijolo,
19,5 cm x 30 cm x 16 cm.

As obras apresentadas são um conjunto de ensaios, que resultam do início de um estudo que me propus desenvolver, sobre a prática e as matérias do desenho.
O desenho pelas suas características particulares, de ser um acto muito espontâneo e imediato, de estar na génese da criação, incluindo a própria escrita, de ter sido a primeira manifestação gráfica, estética e cultural na história da humanidade, incita a uma reflexão sobre a génese de si próprio.
Desta forma, no meu trabalho procuro convocar imagens e formas, criando um jogo entre significante e significado permitindo assim que exista um diálogo com a prática do desenho e as matérias que tradicionalmente o formam: a grafite e o papel.
Marco Moreira, 06/10/2011.



21/10/2011

Palavra-chave (1)

 MARGARIDA CARDOSO




Sansão, 2011.
Acrilico sobre papel, 100 cm x 70 cm.



As narrativas bíblicas do Antigo e Novo Testamento são temáticas incontornáveis na história da Pintura. É feita uma reinterpretação contemporânea tendo em conta os contextos sociológicos e os valores modernos que caracterizam o tempo actual. Nos três trabalhos expostos, só é possível descodificar a imagem através do nome ou do título que lhe é atribuído. É feita uma adaptação pictórica com base em fotografias antigas, onde os protagonistas são maioritariamente membros de uma família que, com as suas poses, vestimentas e expressões faciais, encarnam personagens e cenas do Novo Testamento. Aparentemente, está implícita uma realidade paralela: por um lado a narrativa pictórica, por outro a narrativa literária. Esta última é também uma manobra para o envolvimento do espectador, como autor no trabalho referencial do título que tece uma velatura sobre a pintura em si.

Um exemplo desta transposição é Sansão, representado como um jovem militar, trajando a farda dos comandos portugueses, de frontes sérias, em sentido, com o cabelo acabado de cortar. Conta a história bíblica no Novo Testamento que Sansão perdeu toda a sua força no momento em que lhe cortaram o cabelo. Esta aparente vulnerabilidade está presente em ambas as personagens, tanto a literária como a pictórica. As relações que se possam fazer despertam nos conhecedores da história outras conclusões e discurso. Também é este um objectivo da arte.


Margarida Cardoso, 26 de Outubro de 2011

20/10/2011

Palavras-chave - exposição no ISEG com a colaboração da FBAUL

«PALAVRAS-CHAVE»
exposição de artes plásticas
ISEG - FBAUL
OUTUBRO, 2011


Inauguração: 26 de Outubro às 17h.
Exposição: 26 de Outubro a 19 de Novembro de 2011.

«Palavras-chave» designa um conjunto de palavras que indicam as principais ideias de um texto. Elas sinalizam e delimitam as pesquisas necessárias a qualquer investigação. Este substantivo composto, escolhido como título de uma exposição visual, deve ser entendido como uma metáfora que justifica aparentes dissemelhanças formais e tecnológicas, que inevitavelmente resultam do carácter individual de cada projecto artístico. Mas a aproximá-los está o facto de este conjunto de obras corresponder a dez projectos estruturados em contextos de formação artística superior, muitos deles ainda em desenvolvimento, de acordo com a autonomia criativa que cada um dos seus autores determina.
Foi este o pensamento que estabeleceu os critérios utilizados para a escolha dos artistas e trabalhos que se expõem neste espaço, assim como também serviu para desenhar o conceito implicado no projecto que agora se inicia entre o ISEG e a FBAUL: autores que se encontram num processo de formação artística superior, integrados em qualquer um dos três ciclos de estudos, licenciatura, mestrado ou doutoramento.
Compreendemos que a produção artística não está dependente de uma estrutura académica, mas é nesta estrutura que se propiciam e se incentivam experiências orientadas pelo estudo e pela investigação. Estes investimentos, que no domínio artístico quase sempre começaram com idades muito jovens, quando prosseguem para níveis superiores, constituem uma mais-valia que deve ser ressalvada e valorizada, sobretudo pelas instituições que têm como missão incentivar o aprofundamento do conhecimento.
Nesta exposição, através das produções recentes de Miguel Proença, Ana do Souto Vasques, Luís Barata, Ângela Rodrigues, Marco Moreira, Margarida Cardoso, Anabela Mota, Matilde Mendes, Tiago Pereira de Alexandre e Samuel Duarte podemo-nos integrar nos seus projectos artísticos e constatar que o processo criativo é complexo e que as obras que nos são dadas a ver correspondem sobretudo a um resultado.
Cada um destes artistas corresponde a uma palavra-chave?
Metaforicamente sim, sem dúvida!
Uma palavra-chave tem um universo próprio, disponível para ser aberto, estudado e assimilado, mas também está integrada, com outras, numa estrutura coerente. Compete a cada um de nós estabelecer o grau de aproximação a esse universo, e desse modo ser também parte activa do processo criativo. O risco que correrá será somente o de percorrer caminhos desconhecidos.
Mas este risco foi sempre o mais aliciante da vida.

Ilídio Salteiro, 2011.

Mundo Novo & Natura Naturans trabalhos recentes de Ilidio Salteiro e Dora Iva Rita

  AS COISAS QUE EU FAÇO E DESENHO Obras de Dora Iva Rita   Em primeiro lugar, há que andar um pouco à roda da palavra «coisas»… Coisas vivas...