29/10/2011

Palavra-chave (9)

TIAGO PEREIRA DE ALEXANDRE

Interna, Urbana eterna.
Dois desenhos: É prática corrente sair do atelier como forma de distanciamento do que estou a fazer e dar longas caminhadas, vaguear pela cidade. Nestas caminhadas tendo a agir como um caçador recolector de informação visual e de material para os próprios desenhos. Tendo a pegar em material orgânico. Pequenos objectos como sementes de árvores, folhas, ramos com formas atractivas, restos orgânicos, coisas que me agradem e que aparentemente foram perdidos, deixados e ignorados. Coisas sem valor aparente mas que a mim me despertem algo pela sua forma, textura ou cor
Os primeiros desenhos tinham o carácter de registo, quase obsessivo, uma espécie de desenho científico. O trabalho começou a tomar direcções apenas quando apareceu. Ao observar o conjunto de desenhos apercebi-me que aqueles registos que em tanto investi para serem tão explícitos poderiam ser aquilo ou outra coisa qualquer. Sugeriam desenhos anatómicos, as notas e as legendas faziam com que parecessem material de estudo e investigação arqueológica, tudo menos o lado naturalista talvez ambicionado. Aumentei a escala. Essa escala suscitou a experimentação de novos materiais e registos expressivos. Os objectos ganharam forças visuais distintas e passaram a ser constituintes de um todo. A Paisagem.
Foi muito importante a articulação entre a figura e o fundo, neste caso o próprio suporte, o papel. O enquadramento e o jogo de equilíbrios e desequilíbrios no espaço do desenho são as minhas fortes motivações no acto de desenhar.

Poisos para Pássaros: Desde a infância que a minha relação com os pássaros se estreita. Começou na época em que corria atrás dos pombos junto à igreja de Moscavide e pedia à minha mãe para me comprar sacos de milho para os alimentar, com sorte agarraria um ou outro pela asa…e as tardes, as tardes passadas debaixo de uma figueira de pistola de pressão de ar em punho, as armadilhas de arame estendidas e o “bisgo”, o bisgo colocado em locais estratégicos com ou sem chamariz.
Com o tempo, a vontade de os apanhar foi diminuindo mas, em contrapartida, as caminhadas pelas Lezírias e a vontade de subir às árvores sempre que vejo um ninho têm vindo a aumentar. São muitos os pássaros do meu fascínio, ainda mais aqueles que apenas pelo seu cantar reconheço.
Há já há algum tempo que linhas verticais e horizontais se apoderaram do meu caderno, nunca tentaram de modo algum ocultar a figura humana, penso que apenas as transformaram em formas quase arquitectónicas. O espaço, esse é o meu fascínio. Os equilíbrios e os desequilíbrios das linhas ligam o chão ao céu.
A junção da palavra Poiso com a forma e as linhas do objecto formou-se a partir da poesia, ou então talvez a partir do momento em que as decidi juntar…
Tiago Pereira de Alexandre, 2011.

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