Atendendo
ao facto de expormos aquilo que fazemos, aqui e agora, enquanto
esperamos sossegadamente que tudo nos venha parar à mão sem que para tal façamos ou façais alguma coisa.
É
preciso sair do ovo! A vida é hoje e não depois. A sorte com que se luta,
é preciso fazê-la sair de tudo o que está feito, de tudo o que está vivo e não do que está morto.
Se
eles não sabem que o sonho é tela, é cor é pincel, vaso fuste capitel,
pináculo de catedral.
É
altura de saberem. Já se perdeu muito tempo contraponto sinfonia.
Estamos aqui para dizer que existimos.
Estamos aqui para dizer que precisam de
nós. Que não podem viver sem nós. O Mundo
é dos que pensam, dos que sabem pensar,
dos que sonham e sabem sonhar.
Um
frango só por si não existe. Um galo serve para cantar quando o Sol
se levanta no horizonte e ser cozinhado.
Depois
vem as silhuetas e as sombras e os homens de bem, os artistas e os
poetas, as crianças e os crianços, dizer que assim não pode
ser, que assim não se pode caminhar em frente.
No abismo ecoa-lhes, o eco. Depois há um
acomodar melancólico, um bem-estar encostado a uma parede morta e parva e todas
as considerações que se podem fazer á
volta dela, pobre coitada. És feia, és
bonita, tens os olhos tortos, tens
elementos muito agradáveis e
desagradáveis, tens muitas dúvidas, não sabes nada, nada… Mas sabes tudo, tudo
sem nada saber. Espera que o Sol se ponha
e verás! Verás que a luz só existe
enquanto existe a matéria, massa de que todos somos feitos. Ah sim. porque não
tenhas peneiras, tu, sim tu, és tão ignorante
como eu! Tu que estás sozinho a ler isto,
que fincas os pés no chão numa tentativa de
equilíbrio constante, se queres compreender alguma coisa tira de cá o sentido. Não sabes ver, não sabes pensar, não sabes sonhar. Deita-te,
deita-te na cama e conscientemente, começa hoje já a roer na ponta dos pés e
acaba só, quando chegares à ponta do
último cabelo. Então, e só então, talvez
tenhas inventado o sentido, razão, o
engenho.
Texto para o catalogo da exposição «ARTES PLÁSTICAS», na Galeria da Câmara Municipal da Amadora, de 15 a 23 de novembro de 1981, com o apoio do Centro Cultural Roque Gameiro. Esta exposição teve a participação dos artistas Amadeu Escórcio, Ana Casanova, Dora Iva Rita, Dulce Araujo, Eduardo Nascimento, Henrique Bacelar, Ilídio Salteiro, Joaquim Lourenço, Luis Manuel Vasconcelos, Manuela Jardim, Maria Machado e Maria Morais.
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