Ausência
Escultura é matéria, real,
tridimensional, espacial, visível, palpável, inexcedível, existencial.
Escultura é conceito e objecto, entendimento e concretude. É da relação entre
esses dois factores que a obra surge, talvez possamos falar de pensamento
escultórico, como vocacionado para a concretização, real, de ideias. Escultura
é o que nasce da relação entre o Homem e a Matéria. A matéria é o que fica,
para lá dos conceitos e dos mecanismos de criação que estão por detrás da realização
de uma obra de escultura.
Uma das coisas que me levou a
escolher esta área foi sem dúvida a atracção pela matéria, pela tecnologia,
pela mecânica, pela ferramenta. Uma essência quase que encantatórias, de dar
sentido material às coisas que o são, por ainda não poderem ser nomeadas,
torná-las palpáveis, quentes.
Desenvolvi variados tipos de
trabalhos, iniciando o meu percurso pelas explorações formais, tentando sempre
“domar” as matérias que utilizava levando-as aos seus limites, tentando
ultrapassar a visibilidade do peso, enganar a física criando a ilusão de
leveza, tentando encontrar o equilíbrio precário que está entre a verticalidade
e a queda, a noção de movimento.
A escolha que faço da matéria
a trabalhar prende-se com a exaltação dos valores intrínsecos que o material
encerra, mas acima dessa matéria está a minha vontade e a forma que para ela
pensei. O respeito que tenho pelos materiais que trabalho nunca me deixou
extasiado pelo seu lado decorativo. Qualquer tipo de madeira, por muito bonita
que seja, nunca será mais interessante que a forma que dela tirei.
João Castro Silva