De que falamos quando falamos de pintura?
Este é o título da parte conclusiva de uma obra de Isabel Sabino (A Pintura Depois da Pintura, Lisboa, Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, Biblioteca d’Artes, 2000, pp. 227-230) cuja leitura, consulta ou estudo recomendo vivamente na sua totalidade.
Para responder aquela pergunta são formuladas duas hipóteses: «a pintura é apenas aquilo que só pode ser pintura» e «a pintura é o que diz respeito à pintura». Se com a primeira estamos na presença da Pintura remetida para o essencial de si própria, na segunda estamos no âmbito dos mundos que a Pintura experimenta.
A Pintura tem a idade do Homem e só findará quando ele.
Sobre ela é necessário que não hajam preconceitos, nem que se confundam os seus fundamentos com as tecnologias.
Os fundamentos da Pintura são um modo de pensar e de fazer, do mesmo modo que qualquer outro ramo do conhecimento.
As tecnologias correspondem aos lugares, aos tempos e ao conhecimento e estão ao nosso dispor sempre renovadas.
A Pintura, como toda a Arte, consegue frequentemente anteceder a Ciência por via da sua atitude interrogativa e experimental com práticas laboratoriais diárias. A fotografia e a física quântica são dois exemplos da capacidade de antecedência dessa lógica laboratorial cujo método, por se basear na amostragem da experiência e não na sua comprovação, não é reconhecido como científico.
Na actividade artística prevalece a imagem da obra concluída mas, para os produtores, esta é apenas a síntese de uma longa investigação vivida no espaço mágico onde os seus inventos nascem. Este espaço de magia e de invenções, por preconceitos românticos, tem sido entendido e arredado para o universo das emoções e das sensibilidade expressivas, não sendo visto como local de investigação cientifica.
No entanto por outro lado a Pintura tem-se servido da ciência para prosseguir na construção do seu devir como é o caso, e só para anotar tempos mais próximos, da tecnologia do acrílico, depois dos anos 50 e das tecnologias digitais, nas últimas duas décadas.